Quem pede pela liberação da fosfoetanolamina sintética (fabricada e distribuída na USP São Carlos) acredita que a substância pode curar qualquer tipo de câncer. Mas é possível um único remédio tratar mais de cem tipos de doenças? Segundo os oncologistas consultados pelo UOL a resposta é não.
"É errado chamar o câncer de doença porque na
verdade é um conjunto de mais de cem doenças que são tratadas de forma
específica", afirma Gustavo dos Santos Fernandes, presidente da Sociedade
Brasileira de Oncologia Clínica.
Segundo Fernandes, há de se levar em conta que cada
câncer surge e afeta um órgão ou parte do corpo de forma diferente, por isso
necessitam de medicações específicas.
"Os genes ativados de um tumor são diferentes
no pulmão e no intestino, por exemplo, e cada órgão é atingido de uma forma
diferente. Não há um único agente capaz de curar todas essas doenças",
diz.
Mito da
pílula milagrosa
A crença no poder de cura da fosfoetanolamina
sintética remonta do antigo mito da 'pílula milagrosa contra o câncer', comum
no começo do século passado, afirma a oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz,
coordenadora da Oncologia Clínica do Icesp (Instituto do Câncer de São Paulo).
A oncologia moderna, no entanto, pegou o caminho
oposto, por oferecer cada vez mais tipos específicos de medicamentos de acordo
com as características da doença, explica a oncologista.
"Nos diversos mecanismos celulares que podem
levar ao câncer, é muito difícil ter um único remédio. O que prevalece hoje é
uma estratégia individualizada com uma grande gama de medicamentos para um
tratamento mais personalizado", afirma.
Entenda
Após uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal),
o Tribunal de Justiça de São Paulo derrubou a suspensão da distribuição das
cápsulas do IQSC (Instituto de Química de São Carlos) para quem conseguisse
liminar na Justiça, o que obrigou a USP a voltar a produzir e distribuir a
fosfoetanolamina sintética. Com isso, mais de 700 liminares foram expedidas e o
IQSC ficou sobrecarregado. A USP pede na Justiça a suspensão da entrega das
cápsulas.
Segundo os pesquisadores, a
fosfoetanolamina se aliaria a lipídios para entrar na célula e ativar a
mitocôndria. Com isso, o sistema de defesa do organismo reconheceria a célula
como "anormal" e a atacaria. Em pesquisas com camundongos com câncer
renal os efeitos foram positivos.
Oncologistas, a USP, o ICQS e os próprios
pesquisadores alertam que a substância nunca foi testada em humanos, o que a
inviabiliza como remédio. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária),
responsável por registrar e permitir o comércio de qualquer medicamento no
país, diz que a distribuição da droga é ilegalpor nunca ter passado por testes
clínicos.
Câncer no
Brasil
O câncer se caracteriza pelo crescimento
desordenado de células que invadem tecidos e órgãos. Por se dividirem
rapidamente, quase de forma incontrolável, formam-se tumores malignos que podem
se espalhar para outras regiões do corpo. Esses tumores podem surgir em
diferentes tipos de células.
O tratamento do câncer é feito por meio de uma ou
várias modalidades combinadas. A principal é a cirurgia, que pode ser feita em
conjunto com a radioterapia, quimioterapia ou transplante de medula óssea. O
tratamento mais adequado leva em conta a localização, o tipo do câncer e a
extensão da doença.
Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer),
estima-se que 576 mil novos casos de câncer, incluindo os casos de
pele não-melanoma, surjam em 2015, e pelo menos 189.454
pessoas morram em decorrência do câncer.
O câncer de pele do tipo não-melanoma (182 mil
casos novos) será o mais incidente na população brasileira, seguido pelos
tumores de próstata (69 mil), mama feminina (57 mil), cólon e reto (33 mil),
pulmão (27 mil), estômago (20 mil) e colo do útero (15 mil). Entre os
tumores que devem causar mais mortes estão o câncer do pulmão (24.490
casos); cólon e reto (15.415 casos), mama feminina (14.206 casos); estômago
(14.182 casos); próstata (13.772 casos) e colo do útero (5.430 casos).
Fonte da Imagem: https://luciliadiniz.com/lancada-pilula-que-emagrece/
Data: 26/10/2015